Metrô República, 9:43, entro no trem.
A primeira moça tem luzes no cabelo, casaco branco de brim e óculos bem escuros, de armação branca. Coloca os fones de ouvido, encosta a cabeça, (fecha os olhos?) e mexe lentamente os lábios pintados de vermelho. Está cantando em silêncio uma canção triste ou repetindo frases de um CD de auto-ajuda?
A segunda moça está lendo Harry Potter. O livro está encaixado em um porta-livros de tecido acolchoado verde, com estampa miúda de flores e alcinhas também de tecido, para carregar o volume como se fosse uma bolsinha. Romântica, claro. Ao tirar os olhos do livro, vê à sua frente o moço de dois metros de altura, barba bem aparada, roupa impecável. Perde a concentração no livro, avança uma página, volta. Continua lendo, mas de vez em quando ergue os olhos. Quem sabe os olhares se cruzam, acontece uma mágica e o moço alto se transforma no seu príncipe Harry (o real, não o Potter).
A terceira moça está nas últimas páginas de um livro bem grosso. Ergue os olhos aflita verificando se o trem já vai chegar na sua estação. Nada mais chato que deixar um romance nas últimas três páginas, não saber se o mocinho vai casar com a mocinha, ou se é um romance moderno em que os dois terminam tristes e sós. Esperar até o fim do dia, e se o metrô estiver muito lotado, só vai dar para terminar o livro no dia seguinte.
Deduzo rapidamente o lanche que cada moça traz em sua bolsa: a primeira, não tenho dúvida que carrega uma barrinha de cereais. A segunda, um bolinho Ana Maria de chocolate. A terceira beberá água e usará o horário do lanche para terminar o livro.
Metrô Faria Lima, 10:12.
TAO BOM E PENA QUE VOCÊ ESCREVE TÃO POUCO!!!
Obrigado, Antônio. Excepcionalmente esta semana publicarei mais um texto no domingo.
seu poder de síntese me irrita…