A maçã do Manuel Bandeira

ImageMeu fogão tem duas bocas. Meu armário, uma panela e uma frigideira. E a única faca da cozinha é a minha pequena Opinel com uma lâmina de sete centímetros e meio. De modos que desde cheguei aqui, há três semanas, a única coisa quente que me animei a fazer foi Cup Noodles (há momentos em que se comeria plástico, se plástico tivesse umami).

 Hoje, voltando do trabalho e querendo sossego, passei no mercado, comprei um potinho de tomate ralado, daqueles que na Espanha se passa no pão. Na geladeira, tinha raviólis (comprados quando mesmo?), um pedaço de queijo de cabra, manteiga, um pote de geleia de pêssego, um pouco de suco de maçã e uma maçã, que pelo seio murcho, já se via estar na melhor idade.

Salguei a água (por que só hoje tive a ideia de já pegar a água quente na torneira, para ferver mais rápido?), refoguei o tomate na frigideira e abri o pacote de raviólis, para descobrir que estavam verdes, embora eu tivesse certeza que não havia espinafre quando comprei…

Sem outra alternativa, encontrei um pedaço de pão seco que comi com o tomate ralado e o queijo. Vamos chamar de bruscheta descontruída com releitura de gazpacho. Para ser alta gastronomia internacional, só faltava finalizar com uns brotos e servir numa pedra.

De sobremesa, restava a maçã, que fritei na manteiga e reservei. Reduzi o suco com a geleia de pêssego, e no final acrescentei geleia de pimenta sobre o queijo de cabra (eu sei, não mencionei a geleia de pimenta, mas é que tecnicamente não estava na despensa, mas na estante, junto com os brindes distribuídos no Madrid Fusión).

E assim dei um fim digno para a maçã, que quedava ali tão simples ao lado do talher em um pobre quarto de hotel.

umlitrodeletras

5 Comments

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *