Depois da primeira semana de trabalho em Madri, tenho um fim de semana inteiro para passear (museo parque café igreja calle). O fuso interno, que rege o afeto e os mínimos hábitos, lembra que é domingo e exige que, antes de sair de casa, eu faça a feira.
Abastecido de laranjas valencianas e bananas com alta pegada ecológica, começo o dia na Chocolatería San Gínes, fundada em 1894. Churros, chocolate e aquela sensação flutuante de morador temporário: nem turista nem residente, nem mudo nem fluente, com saudades e presente (hay wi-fi en la cafeteria, caballero?).
Eu chegara à Espanha pela Extremadura, em sete de janeiro, o feriado de Dia de Reis. Dirigira pela névoa desde as sete da manhã, contornando as serras das Estrela e da Gardunha, em Portugal, conhecidas, respectivamente, pelos queijos e cerejas.
Às 11:00, com fome, parei em Ciudad Rodrigo, uma cidade que conserva dois quilômetros de muralhas do século XII, castelo, catedral, ruína… o pacote cidade-histórica medieval completo, que, no meu caso, veio com bônus. No momento exato em que atravesso a porta da cidade por uma silenciosa rua de pedra, surgem tambores, devotos, uma banda e um santo que seguem para a catedral. Ainda que eu não seja de santos e procissões, é uma cena bonita e ajustada ao cenário.
Dirijo-me à a Playa Mayor, onde encontro rapidamente o que procuro: uma casa de jamón. Descubro que o embutido regional é o farinato, feito à base de carne de porco, miolo de pão, alho e anis. Peço um montadito, dois montaditos, três montaditos, uma taça de Rioja (porque quem precisa de água aqui?) e é assim que começo a comer a Espanha.
Bom começo para uma ótima história. Quando descobrir a receita da tortilla perfeita , avise. Forte abraço.