Os que leem os que comem

Revistas, por Marcos Garcia.Os que comem fotografam, blogam, tuítam. Nunca a comida foi tão retratada, descrita, comentada e criticada. Com tanta informação online, eu imagino que um publisher de revista de gastronomia tenha, hoje, um baita desafio na mão. A revista Gula de julho, por exemplo, traz uma matéria extensa e bem fotografada da nova coleção de pratos da Roberta Sudbrack. Entretanto, a coleção lançada em maio já fora resenhada, alguns dias depois, pela Constance Escobar, no blog http://www.praquemquisermevisitar.com.br. Que espaço sobra, então, para as revistas?

Um argumento utilizado com frequência é o de que há blogueiros demais, e curiosos demais, sem a especialização nem o conhecimento necessário para falar do assunto. Existe, aliás, uma reação de canseira a tantos dedos e mouses apontados para filés fora do ponto, e uma sensação de que a crítica não especializada é que passou do ponto.

Acho que aqui há uma confusão de papéis. Nas redes sociais, muita gente acredita que está fazendo crítica, quando, na verdade, está fazendo controle de qualidade. Aliás, um consumidor tem o direito de reclamar se o produto que compra não está dentro de um padrão adequado de consumo. O que, aliás, sempre pode ser feito com elegância, afinal, a rede é social e não um faroeste.

Mas reclamar da qualidade não é crítica. O papel da crítica é outro — ela pode até apontar um desvio de execução de um prato a partir do cânone existente — mas seu interesse está mais em por quê aquilo acontece, e para qual tendência aponta. Na irritação legítima contra o exército de agentes de qualidade que se perfila nas redes sociais, os criticados também esquecem que a crítica tem seu espaço e ajuda a formular a concepção do estamos bebendo e comendo.

Voltando às revistas, se o caminho delas é aprofundamento, especialização e rigor — oras, então é importante que invistam nisso. E não escrevo este post para ficar apontando o dedo — embora, como consumidor, e com alguma noção do assunto, vez por outra eu me irrite com alguma deslize que escapou da edição e acabe ventilando isso pelo Twitter.

Voltando ao caso da Gula, a matéria acrescenta pouco ao que já se sabia da coleção do RS, embora, não custa repetir, é uma matéria bonita de se ver. Acho, aliás, que a Gula tem uma boa produção fotográfica e é daquelas revistas que dá vontade de comer. Em termos de matérias, pelo menos ao se comparar as edições de julho, há uma evidente aposta, similar à da revista Gosto, por matérias de caráter histórico. A Gula traz fondue e Frida Kahlo, a Gosto traz sanduíches e James Dean. Para o leitor que busca história, são o veículo perfeito.

A Prazeres da Mesa já é um instagram do cenário da restauração brasileira. Não há veículo melhor para saber quem está cozinhando o quê em que parte do Brasil e do mundo. À turma do controle de qualidade, eu sugeriria, em vez de caçar defeitos, o exercício intelectual de analisar quais os caminhos da gastronomia atual que se desenham nas 33 receitas. A própria revista pode também abrir mais espaço para esta análise.

Tenho dificuldade para definir a revista Menu, mas a matéria de capa, sobre carne de caça, é o melhor exemplo, neste mês de uma matéria que fez um bom exercício de trazer desde receita até questões de manejo e produção de animais “selvagens”. Também fala sobre sustentabilidade sem precisar citar o assunto nominalmente (um engano comum não restrito a revistas de gastronomia).

Não falei aqui da diVino Sabores, que não circula em julho, nem da Casa&Comida, para citar outras revistas que compro esporadicamente, e cujos projetos gráficos sempre me intrigam. Como eu disse no início, os publishers têm um baita desafio na mão, que não se resume apenas a alguns pontos que comentei aqui.

O sol nas bancas de revistas me enche de alegria e preguiça. Já faz tempo que o Caetano perguntou: quem lê tanta notícia? Os que comem, leem.

umlitrodeletras

11 Comments

  1. Sandro,

    Acho que os Blogs são mais incisivos e explicativos que as revistas. Talvez porque menor, e geralmente tudo feito por uma só pessoa.
    Mesmo assim, há BLOGS… e blogs.
    Alguns são matéria paga; que elogiam tudo o que comem de graça. E alguns desses blogueiros nem entendem de ingredientes, paladares, bla bla bla.
    Outros BLOGS, eu adoro ler – e procuro, inclusive, como índice e termômetro para somar às minhas avaliações.
    Às revistas, eu credito alguma beleza gráfica. E algumas – apenas algumas – boas valiações gastronômicas.
    Credibilidade, teu nome é umlitrodeletras!
    Beijos
    Lena
    Esses, eu nem leio.

  2. At the end I translated by the help of Google 🙂 So I can read now… It was a nice post. Internet and pc world almost took their places of books, magazines, etc. But I am still one of them who reads them… I have some of my magazines that I have been following for many years… But yes, at the end they need place at home. But I like to keep them. Thank you, with my love, nia

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