Namorados

Gosto dos jantares calmos de domingo. Uma única taça de vinho para dividir entre dois — por que sujar mais louça? Um pouco de arroz, um ovo frito com a gema mole. Torradas com o pão do café da manhã. Um resto de salada que cochilou a tarde toda na geladeira. Um naco de carne, eco do almoço ruidoso, também ali para dividir. Planos e bocejos para segunda-feira, para a semana. Num jantar de domingo o amor fica ali na mesa, rodeia a fruteira, assenta-se silencioso enquanto os garfos tinem nos pratos.

Num jantar de domingo o amor fica ali rodeando a mesa. Pés com meia se roçam sob as cadeiras. Planos para o mês, para o ano. Lista de compras, o café está acabando. Um chá. Cobertas quentes.

Acorda-se cedo, ganha-se o pão, troca-se a mês. No domingo seguinte, dois pratos, uma taça de vinho. Sonhos, planos, lista de compras. O açúcar está acabando. O amor não, está ali, concreto, fragrante e palpável.

***

Ontem, dia dos Namorados, comemoramos o namoro de outros. Tânia e Valter fizeram 25 anos de casados. Na festa, família e alguns amigos. E o amor ali, concreto, fragrante e palpável.

umlitrodeletras

7 Comments

  1. Isso é poesia!

    Meus olhos marejaram ao ler “Num jantar de domingo o amor fica ali na mesa, rodeia a fruteira, assenta-se silencioso enquanto os garfos tinem nos pratos.”

    Vocês não comemoraram somente o namoro de outros. Comemoraram o de vocês, pois estavam juntos celebrando!!

    Beijos
    Helena

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