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Não troque ainda o bacon pelo salmão

A ONG Oceana descobriu que 43% do salmão vendido como “selvagem” nos EUA era, na verdade, salmão de cativeiro. A probabilidade de ser enganado é cinco vezes maior quando o consumo é feito em restaurantes. No Chile, de onde brasileiros compramos o peixe, os produtores vem aumentando o uso de antibióticos, enquanto na Noruega já foram desenvolvidas vacinas contra as infecções bacterianas.

O relatório de sustentabilidade da Global Salmon Initiative é revelador (mas é preciso ler nas entrelinhas nos infográficos).

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Ruim para a cintura, bom para a economia

Há três décadas, 70% dos americanos diziam evitar lanchinhos entre as refeições. Este número caiu para 30% e a prática do snacking, que faz brilhar os olhos da indústria, não aumentou apenas entre os americanos. O hábito também cresce na França, apesar de 90% dos franceses afirmarem a importância de uma verdadeira refeição em torno da mesa (no Brasil, apenas 47% das pessoas dizem que isso é importante).

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No futuro, todos comeremos jaca

Alguns pesquisadores sugerem que jaca é a comida do futuro. A planta é extremamente produtiva e resistente a pragas e mudanças climáticas. Jaca verde desfiada e temperada corretamente parece carne de porco, e começa a aparecer em cardápios de Londres a Los Angeles. Nos EUA, a Upton Natural’s e a Jackfruit já vendem o produto embalado em supermercados para ninguém sujar as mãos de visgo.

Quer botar a mão na jaca? A Neide Rigo tem receitas.

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Hoje Proust comeria sucrilhos?

A cena é um clássico: o aroma de um bolinho mergulhado no chá transporta para o passado. Foi assim que Marcel Proust imortalizou as madeleines no romance “Em Busca do Tempo Perdido”, criando o mais conhecido símbolo do poder evocativo da comida. Só que a editora Saint-Peres acaba de revelar que Proust tinha escrito versões anteriores em que as memórias eram despertadas por torradas com mel e biscotti. A decisão final foi baseada na preferência pessoal de Proust ou no melhor efeito literário? Se fosse hoje, a escolha seria apenas efeito da estratégia de product placement e merchandising de alguma marca de alimentos.

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O que há em um nome

Cafés são meu segundo escritório. Um lugar onde procuro wi-fi, poltrona e, incidentalmente, um bom espresso. Mas será que é mais confortável trabalhar no Sofá Café, mais científico trabalhar no Coffee Lab e mais focado trabalhar no Por um Punhado de Dólares? Em Londres, o site “Information is Beautiful” fez uma taxonomia de nomes de cafés e encontrou desde “Tremors” até “Mother’s Milk”.

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Sr. Drácula, aceita uma água de coco?

O New York Times diz que a principal mudança recente na dieta norte-americana é a queda no consumo de refrigerantes. A Lucky Peach avisa sobre o exagero de achar que água de coco pode substituir o plasma sanguíneo. De acordo com o relatório que mapeia 12 tendências em alimentos e bebidas da Mintel, aditivos artificiais são o novo “inimigo público número 1.”

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Epuff…ania

Quando eu quero organizar as ideias, coloco um CD de música clássica no volume máximo e organizo o freezer e a geladeira. Faço um inventário meticuloso que começa com a identificação dos ovos por data de compra e termina com a organização simétrica das laranjas na gaveta. Revejo o que existe congelado no freezer. Realoco os itens nas prateleiras de acordo com a data de consumo. Descarto potes sem data, cuja cor e aparência já não trazem pistas de sua origem em um jantar distante (“Só sobrou um restinho mas está uma delícia, congela que a gente come domingo que vem.”) Por fim, com todos os potes na geladeira arranjados por tamanho e com o rótulo voltado para a frente, termino a atividade com a mente tranquila — pelo relato que ouço dos adeptos da meditação, o efeito deve ser semelhante.

Hoje eu acordei, escolhi um CD favorito (a trilha sonora do filme Bleu, do Kiéslovski) e coloquei no aparelho. O tempo nublado, o clima ameno, a casa em silêncio e eu antevendo o prazer da arrumação da próxima meia hora. O aparelho fez um puff…, soltou uma fumaça com cheiro de queimado e apagou sem devolver meu CD.

Puff! Fiquei sem meu CD, perdi a graça de arrumar tudo, decidi começar a segunda-feira com as ideias confusas e mal organizadas, algumas novas, algumas velhas, algumas congeladas sem pistas de sua origem em uma epifania distante (“Que ideia incrível, segunda-feira que vem começo esse projeto sem falta.”)

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O gosto na língua e na cabeça

É mesmo meio estranha a faculdade que eu tenho de lembrar, por anos a fio, do gosto de outras pessoas. Isso já me proporcionou uma refeição memorável, quando recebi em casa um amigo da família e fiz para ele um prato que ele mencionara casualmente há mais de vinte anos: era um cozido de carne e legumes que incluía pegaços de espiga de milho verde para serem sugados depois da refeição.

Lembro-me do ex-marido de uma colega de trabalho (eu o vi uma única vez na vida) que gostava de pudim de leite condensado com caldo de limão espremido por cima. Tem também meu primo, que raramente encontro, mas sei que gosta de suco de laranja batido no liquidificador. E ainda um antigo colega de trabalho que gostava de rabanete e detestava rúcula.

Onde é que está, afinal, o gosto de tudo isso? Na língua ou na cabeça? Como sentimos e como comparamos os gostos? A partir de 16 de outubro, e por quatro sextas-feiras, Carlos Alberto Dória e eu falaremos sobre a construção do gosto na cultura e na gastronomia, abordando desde os antecedentes de Brillat-Savarin até a compreensão atual deste conceito. Mais informações aqui: http://up.mackenzie.br/extensao/cursos-de-extensao/gastronomia/a-cultura-e-a-formacao-do-gosto-1610-a-0611/

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Reflexão

Próxima ao teto flutua uma quiche

Acordo às 2:47 da madrugada. Tento enganar a insônia, mas próximo ao teto do quarto flutuam pedaços das notícias que recebi durante o dia, tarefas que terei que cumprir pela manhã e uma fatia de quiche king size. Penso em sair para comprar pão. Penso em sovar um pão. Viro para a esquerda. Penso em ler um livro legal. Penso em ler um livro chato. Viro para a direita.

Se for indigestão, não é pela quiche, que eu mesmo fiz e estava excelente. Mais provável que seja o excesso de reality shows culinários – vi dois na noite passada. Viro para esquerda. Penso naquelas crianças norte-americanas competindo na cozinha e me lembro do Érico Veríssimo, que quando viajou para os EUA na década de trinta do século passado, conheceu Shirley Temple e disse que em Holywood havia atores canastrões e as crianças eram treinadas desde cedo para serem “canastrinhas”. Cito de memória. Não tenho certeza que ele encontrou a Shirley Temple. Viro para o teto, onde ainda flutua a quiche. Não há nada mais surreal do aquelas crianças que fazem linguiça, papardelle e dacquoises com a mesma naturalidade de quem faz lasagna congelada. Observe os cabelos e as roupas cuidadosamente escolhidas por personal stylists, no intuito de conferir a cada criança uma personalidade distinta e presença de palco.

Pego um livro chato, vou para sala, abro o computador. Fujo do Facebook: estou insone mas não deprimido. Respondo um email de uma amiga que pede opinião sobre um texto. É sobre cozinheiros e como eles vão salvar o planeta. Pelo Twitter, sou informado do suicídio de um chef em Chicago. Jovem demais para partir. Eu o vi palestrando no TED, há três anos, cheio de entusiasmo pela gastronomia molecular e nos oferecendo quatro pedaços de papeis comestíveis cujo sabor mudava de acordo com a ordem de ingestão dos papeis. Fico pensando que o papel de chef pode lhe ter causado uma indigestão (e não é o primeiro caso de suicídio este ano).

O sono não volta mesmo. Penso em ligar a TV, mas a essa hora da madrugada só tem reprise de programa culinário. Fico pensando num programa em que as pessoas tenham que cozinhar em silêncio, seja proibido competir e ninguém receba ingredientes da caixa surpresa. Não é uma boa ideia, acho que vai dar sono. O livro que eu trouxe para a sala chama-se “Haverá a idade das coisas leves”.

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Viajar e comer

A memória e as cidades (I)

Buenos Aires

Estávamos perdidos e com fome e mal-humorados. Passava das três da tarde quando encontramos uma pequena rotisseria. Eu me lembro claramente do proprietário apontando para o balcão e dizendo: “Tudo o que temos são estas codornas em escabeche”. Nunca me esqueci do sabor daquelas codornas frias, nadando em azeite e vinagre, servidas com pão rústico e uma taça de vinho.

Veneza

Caía a tarde e minha filha precisava jantar. Fugimos do menu turístico que assola todos os restaurantes e encontramos uma deliciosa sopa de feijão. A criança tomou metade da sopa e os adultos disputamos a colheradas o que sobrou. Mas a melhor lembrança que temos de Veneza não é dessa sopa de feijão, mas do limoncello que Peter Karady nos pagou na nossa lua-de-mel.

São Francisco

Cheguei sozinho, às 23:30, após atravessar a California de carro em oito horas, com uma única parada para ir ao banheiro, comprar uma Coca-Cola e um pacote de batatas fritas. O único local aberto próximo ao hotel era uma lanchonete do Subway. Mas o hotel era em frente ao Farmer’s Market, e no dia seguinte meu café da manhã foi um sanduíche de porchetta. Eu moraria naquele mercado.

Odense

O café da manhã mais estranho foi em Odense, na Dinamarca. Chegamos num domingo às onzes horas, feriado nacional, após as doze horas de voo até Amsterdã, conexão até Copenhagen e mais duas horas de trem. Exaustos, encontramos tudo fechado. O único estabelecimento aberto na cidade morta era uma sorveteria.

Paris

Na primeira vez,  fiquei hospedado em um Formule 1 muito distante do centro. Passei a manhã procurando uma flauta para meu irmão e um martelo de ortopedista para uma amiga. Virei uma esquina, meio sem saber onde estava, e me deparei com a Torre Eiffel. Respirei fundo. Paralisei. Me recordo de procurar um telefone público e ligar entusiasmado para minha irmã. Por mais que me esforce não consigo me recordar da primeira refeição.

***

Há dias não me saíam da cabeça as codornas de Buenos Aires. Comprei codornas congeladas – o pacote vem com quatro – e deixei marinando em meia garrafa de vinho branco, muitos dentes de alho, cenoura em rodelas grossas, manjericão, tomilho, louro, um pedaço de cebola e pimenta do reino.

No dia seguinte, sequei bem as aves, salguei e dourei na manteiga. Despejei o líquido da marinada na panela, acrescentei um gole de vinagre e cozinhei por uns vinte minutos. Deixei descansando na geladeira para concentrar o sabor por 24 horas.

Então comprei um bom pão, abri um vinho e quando provei as codornas me lembrei de todas essas cidades.