O cheiro do garum

O primeiro ato dos romanos
quando conquistaram São Paulo
foi imaginar um aqueduto.
Uma bela construção no horizonte –
imagina o sucesso que faria com turistas no futuro. 

Fincaram um bom esteio,
afinal um aqueduto não se começa do fim,
nem do começo, mas do meio.
Depois procuraram águas salubres e montes altaneiros,
mas só encontraram o Rio Pinheiros.
O primeiro ato dos romanos em São Paulo
foi construir um viaduto.

Quando os legionários chegaram
sentiram falta de fontes nas praças
mas antenas havia em boa conta
Gostaram da vista e quiseram contar as colinas
mas não encontraram todas as sete
porque estavam escondidas atrás do espigão da Paulista

Queriam plantar trigo para o pão
mas a terra só dava mandioca
Quando os romanos chegaram
foram logo procurar lambaris para fazer garum
mas o cheiro do Tietê era tão estranho
que preferiram tomar um café na padoca.

umlitrodeletras

9 Comments

  1. Este “moço” sempre me surpreendeu.!!!!.imaginava eu, que as surpresas tivessem acabado..porém deixou-me ele, boquiaberto novamente. Que privilégio poder ter compartilhado com ele alguns momentos.

  2. Professor, é reconfortante perceber que ainda tem gente que sabe escrever. Há saLvação para a educação! Parabéns, lindo texto..

  3. Nosso construtor de aquedutos veio de Omaha que, bem antes de ser aquela praia sangrenta do Tom Hanks, já era uma cidadezinha gelada no meio do Nebraska. Como bom engenheiro yankee, não se importava muito com as frescuras arquitetônicas dos aquedutos italianos, nem tinha aquela nobreza vitoriana com que os súditos de Sua Majestade construiam as ferrovias. Traçou dois riscos no mapa, rasgou o chão e colocou as águas para subir morro e despejar serra abaixo, num tempo que eletricidade foi sinônimo de bonde e progresso. A partir do engenheiro Billings, criou em São Paulo essa idéia de que rio bom é o rio reto, sem curvas, sem remansos, sem praias para picnic, sem várzeas onde a gente possa praticar o ócio da pelada dominical. Em troca, temos os rios espremidos entre muros de concreto, afastados do convívio social por autopistas e ferrovias, cobertos, tampados e devidamente escondidos para transportar para bem longe nossos indesejáveis dejetos, com aquela deselegância discreta que tão bem nos define. O “Entre Rios”, é um bom documentário do Caio Ferraz sobre esse tema.

    Parabéns pelo blog Sandro. Gostei muito!

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